Referência

HAWKINS, Richard. The Observations of Sir Richard Hawkins, Knt, in his Voyage into the South Sea in the Year 1593. Reprinted from the Edition of 1622. Londres: Printed for the Hakluyt Society. 1847. Disponível em: . Acesso em: .

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O almirante Sir Richard Hawkins (c. 1562 - 17 de abril de 1622) foi um marinheiro, explorador, pirata e corsário inglês do século XVII. Em 1593 ele comprou o galeão Dainty (construído para a viagem de descoberta), uma embarcação originalmente construída para seu pai e usada por ele em suas expedições, e navegou para as Índias Ocidentais e os mares do sul para atacar e pilhar as possessões ultramarinas da coroa espanhola. Após um ataque mal sucedido, foi preso e enviado de volta para a Inglaterra, onde, em 1604, se tornou membro do Parlamento por Plymouth e vice-almirante de Devon. Ele morreu em Londres em 17 de abril de 1622. Hawkins escreveu as memórias de sua viagem sob o título Voiage into the South Sea (1622), que se tornou a aventura mais famosa da era elisabetana. Nela, ele descreve os espanhóis nas Américas de uma maneira relatiamente positiva, julgando-os "temperantes" e "gentis".
 

The observations of sir Richard Hawkins Knights in his voyage into the South Sea ()

Abaixo está um fragmento do livro que menciona a passagem da frota de sir Richard Hawkins pelo e proximidades. O texto completo (em inglês) está no final da página.

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À medida que nos aproximávamos da costa do Brasil, o vento começou a virar para o lado leste e, em meados de outubro, passou a soprar e a nosso favor. Por volta de 18 de outubro, estávamos em frente ao , situado a 6 graus ao sul da linha. A 21 de outubro alcançamos a altura de , mas a 80 léguas da costa. A 24, passamos à altura da Baía de Todos os Santos e, quase no final de outubro, entre 17 e 18 graus ao sul da linha, encontrávamo-mos a 16 braças, sondando os grandes baixios situados ao longo da costa, entre a Baía de Todos os Santos e Vitória, muito perigosos.

A Providência, todavia, apiedou-se de nós e enviou-nos grandes bandos de pequenos pássaros, semelhantes às narcejas. Esses pássaros vivem sobre as rochas irregulares tais baixios e geralmente podem ser apanhados 20 léguas antes que um homem corra algum perigo para fazê-lo […].

A 19 ou 20 graus ao sul da linha, o vento tornou-se contrário, inconveniente que, aliado à doença que grassava entre os meus homens, obrigou-me a buscar terra. Ao término de outubro, avistamos terra e, pela altura em que julgávamos estar e por outros sinais, sabíamos ser o porto de Vitória. Tal porto é facilmente reconhecível, pois tem uma grande montanha na sua parte de trás, em formato de sino. Mais próximo da terra, vê-se uma torre branca ou fortificação, situada no topo de uma montanha que se sobressai atrás do ancoradouro e das terras costeiras. É a primeira terra que se tem de contornar antes de entrar no porto.

Lançamos âncora a, aproximadamente, umas 2 léguas da terra aproximadamente. Os capitães dos outros navios subiram a bordo da minha embarcação. Julgamos conveniente, tendo em conta que em todas as embarcações não havia mais do que 24 homens saudáveis e que o vento era instável e poderia mudar a qualquer momento, pedir com brandura o que não poderíamos conquistar pela força. Deliberamos negociar com a gente da terra, de modo a conseguir alguns refrescos para os da nossa companhia doente.

Para pôr em prática tal deliberação, escrevi uma carta em latim para o governador e enviei-lhe com uma peça de veludo carmesim, de fino tecido da Holanda, e diversas outras coisas como presente. Enviei tudo ao governador pelas mãos de um dos meus capitães que sabia falar um pouco de espanhol, recomendando-lhe que desse a entender que éramos mercadores a caminho das Índias Orientais e que ventos contrários nos tinham obrigado a procurar aquela costa. Mandei ainda dizer-lhe que, por mercadorias que o país tinha em abundância, lhe daríamos o que quisesse. Por volta de 9 horas da manhã, meu capitão, de posse de tais instruções, partiu em um bote bem-abastecido, que levava uma bandeira de paz e dezesseis homens bem-armados. Guiava o bote um homem de minha companhia que estivera dois anos antes nesse lugar e era um piloto razoável.

Entrando no porto, a um quarto de milha acima, há uma pequena vila e, a cerca de 3 léguas, a cidade principal. De cada lado do porto, onde estão ancorados os navios que vão carregar ou descarregar, há um forte. Na pequena vila, está baseada uma guarnição composta por cem , dos quais uma parte permanece na própria vila e, a outra parte, em uma torre branca que comanda a região, situada no alto de uma colina.

Meu capitão teve boa acolhida por parte dos homens instalados naquela vila, os quais receberam a minha carta e, imediatamente, remeteram-na ao governador, que se encontrava acerca de 3 milhas dali. Esses acabaram por nos ser úteis. Enquanto aguardavam o mensageiro, meu capitão e um seu companheiro conheceram alguns soldados do lugar que, depois dos cumprimentos de praxe – indispensáveis na sua profissão, quando não são indisciplinados -, resolveram ajudá-los.  Observando que os nossos estavam ansiosos por obter laranjas, limões e outros refrescos para o seu general, permitiram que as e crianças do lugar trouxessem o que necessitavam. Meu capitão retribuiu entregando-lhes duas pistolas que eu lhe tinha dado para essa situação. Conseguimos obter duzentas ou trezentas laranjas e limões e umas poucas galinhas.

Durante toda aquela noite e no dia seguinte, 9 horas, aguardamos o retorno do bote. A demora começou a preocupar-me e resolvi equipar um cavaleiro ligeiro de que dispunha e o navio Fancy da melhor maneira que era possível – de modo a camuflar a nossa debilidade e pouca saúde -, e naveguei para o porto. Serviu-nos de piloto um artilheiro da tripulação que já estivera nessas plagas há três anos.

E assim seguimos. Nosso capitão, ao saber que ganhávamos a barra, veio, para minha grande satisfação, juntar-se a nós. Meu contentamento foi ainda maior quando vi que traziam no bote uma grande quantidade de laranjas e limões, os quais eram destinados especialmente aos doentes da companhia. O capitão relatou-me o que tinha se passado e que aguardava a resposta do governador. Duas horas depois de termos ancorado bem em frente à cidade, vimos tremular uma bandeira de paz na terra e deduzimos que a resposta do governador havia chegado. Enviei um bote para pegá-la. Sua Excelência mandava dizer que lamentava muito, mas que não podeira atender às nossas demandas, apesar de elas serem justas e razoáveis. Infelizmente, explicava ele em razão dos conflitos entre a Espanha e a Inglaterra, tinha ordens expressas do seu rei de não socorrer nenhum navio inglês que viesse negociar na sua jurisdição e de não deixar que a sua tripulação desembarcasse ou negociasse com as gentes da terra. Por fim, pediu-nos que o perdoasse, mas que aquela era a sua resposta definitiva. Pediu-nos também que deixássemos o porto o mais rápido possível e que nos dava três dias em recompensa pela maneira cortês como havíamos nos comportado. A partir daí, todos os meus homens que tentaram desembarcar foram impedidos ou molestados. Diante de tal situação, resolvi partir, e determinei que sairíamos tão logo soprasse um vento favorável. O vento, porém, não veio nem na noite desse dia, nem no dia seguinte. Fiquei bastante aflito, pois tinha consciência da nossa fraqueza e do que poderia nos acontecer caso eles soubessem do estado em que nos encontrávamos. Quanto se está em um porto inimigo, é necessário ficar com os olhos abertos e estar sempre pronto para partir, sobretudo se o inimigo for mais poderoso e as marés tiverem alguma força. Com a vazante ou com a cheia, é possível aos inimigos que estão em terra incendiar os navios e, servindo-se de nadadores ou de outros recursos, cortarem os cabos das embarcações. Incendiar navios inimigos, a propósito, é uma prática muito comum nos países quentes. Os inimigos podem, também, lançando mão de balsas canoas, botes e pinaças, tomar de assalto o navio. Se tivessem tentado isso contra nós, teríamos de nos render, pois só tínhamos a bordo homens doentes. Muitas vezes, no entanto, é a opinião e o medo que protegem os navios, e não os homens que vêm dentro dele […].

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