The observations of sir Richard Hawkins Knights in his voyage into the South Sea (1622)
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The observations of sir Richard Hawkins Knights in his voyage into the South Sea (1622)
Abaixo está um fragmento do livro que menciona a passagem da frota de sir Richard Hawkins pelo Espírito Santo e proximidades. O texto completo (em inglês) está no final da página.
À medida que nos aproximávamos da costa do Brasil, o vento começou a virar para o lado leste e, em meados de outubro, passou a soprar forte e a nosso favor. Por volta de 18 de outubro, estávamos em frente ao cabo de Santo Agostinho, situado a 6 graus ao sul da linha. A 21 de outubro alcançamos a altura de Pernambuco, mas a 80 léguas da costa. A 24, passamos à altura da Baía de Todos os Santos e, quase no final de outubro, entre 17 e 18 graus ao sul da linha, encontrávamo-mos a 16 braças, sondando os grandes baixios situados ao longo da costa, entre a Baía de Todos os Santos e Vitória, muito perigosos.
A Providência, todavia, apiedou-se de nós e enviou-nos grandes bandos de pequenos pássaros, semelhantes às narcejas. Esses pássaros vivem sobre as rochas irregulares dos tais baixios e geralmente podem ser apanhados 20 léguas antes que um homem corra algum perigo para fazê-lo […].
A 19 ou 20 graus ao sul da linha, o vento tornou-se contrário, inconveniente que, aliado à doença que grassava entre os meus homens, obrigou-me a buscar terra. Ao término de outubro, avistamos terra e, pela altura em que julgávamos estar e por outros sinais, sabíamos ser o porto de Vitória. Tal porto é facilmente reconhecível, pois tem uma grande montanha na sua parte de trás, em formato de sino. Mais próximo da terra, vê-se uma torre branca ou fortificação, situada no topo de uma montanha que se sobressai atrás do ancoradouro e das terras costeiras. É a primeira terra que se tem de contornar antes de entrar no porto.
Lançamos âncora a, aproximadamente, umas 2 léguas da terra aproximadamente. Os capitães dos outros navios subiram a bordo da minha embarcação. Julgamos conveniente, tendo em conta que em todas as embarcações não havia mais do que 24 homens saudáveis e que o vento era instável e poderia mudar a qualquer momento, pedir com brandura o que não poderíamos conquistar pela força. Deliberamos negociar com a gente da terra, de modo a conseguir alguns refrescos para os da nossa companhia doente.
Para pôr em prática tal deliberação, escrevi uma carta em latim para o governador e enviei-lhe com uma peça de veludo carmesim, de fino tecido da Holanda, e diversas outras coisas como presente. Enviei tudo ao governador pelas mãos de um dos meus capitães que sabia falar um pouco de espanhol, recomendando-lhe que desse a entender que éramos mercadores a caminho das Índias Orientais e que ventos contrários nos tinham obrigado a procurar aquela costa. Mandei ainda dizer-lhe que, por mercadorias que o país tinha em abundância, lhe daríamos o que quisesse. Por volta de 9 horas da manhã, meu capitão, de posse de tais instruções, partiu em um bote bem-abastecido, que levava uma bandeira de paz e dezesseis homens bem-armados. Guiava o bote um homem de minha companhia que estivera dois anos antes nesse lugar e era um piloto razoável.
Entrando no porto, a um quarto de milha acima, há uma pequena vila e, a cerca de 3 léguas, a cidade principal. De cada lado do porto, onde estão ancorados os navios que vão carregar ou descarregar, há um forte. Na pequena vila, está baseada uma guarnição composta por cem soldados, dos quais uma parte permanece na própria vila e, a outra parte, em uma torre branca que comanda a região, situada no alto de uma colina.
Meu capitão teve boa acolhida por parte dos homens instalados naquela vila, os quais receberam a minha carta e, imediatamente, remeteram-na ao governador, que se encontrava acerca de 3 milhas dali. Esses acabaram por nos ser úteis. Enquanto aguardavam o mensageiro, meu capitão e um seu companheiro conheceram alguns soldados do lugar que, depois dos cumprimentos de praxe – indispensáveis na sua profissão, quando não são indisciplinados -, resolveram ajudá-los. Observando que os nossos estavam ansiosos por obter laranjas, limões e outros refrescos para o seu general, permitiram que as mulheres e crianças do lugar trouxessem o que necessitavam. Meu capitão retribuiu entregando-lhes duas pistolas que eu lhe tinha dado para essa situação. Conseguimos obter duzentas ou trezentas laranjas e limões e umas poucas galinhas.
Durante toda aquela noite e no dia seguinte, até 9 horas, aguardamos o retorno do bote. A demora começou a preocupar-me e resolvi equipar um cavaleiro ligeiro de que dispunha e o navio Fancy da melhor maneira que era possível – de modo a camuflar a nossa debilidade e pouca saúde -, e naveguei para o porto. Serviu-nos de piloto um artilheiro da tripulação que já estivera nessas plagas há três anos.
E assim seguimos. Nosso capitão, ao saber que ganhávamos a barra, veio, para minha grande satisfação, juntar-se a nós. Meu contentamento foi ainda maior quando vi que traziam no bote uma grande quantidade de laranjas e limões, os quais eram destinados especialmente aos doentes da companhia. O capitão relatou-me o que tinha se passado e que aguardava a resposta do governador. Duas horas depois de termos ancorado bem em frente à cidade, vimos tremular uma bandeira de paz na terra e deduzimos que a resposta do governador havia chegado. Enviei um bote para pegá-la. Sua Excelência mandava dizer que lamentava muito, mas que não podeira atender às nossas demandas, apesar de elas serem justas e razoáveis. Infelizmente, explicava ele em razão dos conflitos entre a Espanha e a Inglaterra, tinha ordens expressas do seu rei de não socorrer nenhum navio inglês que viesse negociar na sua jurisdição e de não deixar que a sua tripulação desembarcasse ou negociasse com as gentes da terra. Por fim, pediu-nos que o perdoasse, mas que aquela era a sua resposta definitiva. Pediu-nos também que deixássemos o porto o mais rápido possível e que nos dava três dias em recompensa pela maneira cortês como havíamos nos comportado. A partir daí, todos os meus homens que tentaram desembarcar foram impedidos ou molestados. Diante de tal situação, resolvi partir, e determinei que sairíamos tão logo soprasse um vento favorável. O vento, porém, não veio nem na noite desse dia, nem no dia seguinte. Fiquei bastante aflito, pois tinha consciência da nossa fraqueza e do que poderia nos acontecer caso eles soubessem do estado em que nos encontrávamos. Quanto se está em um porto inimigo, é necessário ficar com os olhos abertos e estar sempre pronto para partir, sobretudo se o inimigo for mais poderoso e as marés tiverem alguma força. Com a vazante ou com a cheia, é possível aos inimigos que estão em terra incendiar os navios e, servindo-se de nadadores ou de outros recursos, cortarem os cabos das embarcações. Incendiar navios inimigos, a propósito, é uma prática muito comum nos países quentes. Os inimigos podem, também, lançando mão de balsas canoas, botes e pinaças, tomar de assalto o navio. Se tivessem tentado isso contra nós, teríamos de nos render, pois só tínhamos a bordo homens doentes. Muitas vezes, no entanto, é a opinião e o medo que protegem os navios, e não os homens que vêm dentro dele […].