Referência

Barléu, G. (1940). História dos Feitos Recentemente Praticados Durante Oito Anos no Brasil e Noutras Partes sob o Governo de Wesel, Tenente-General de Cavalaria das Províncias-Unidas sob o Príncipe de Orange. Rio de Janeiro: Ministério da Educação, p. 199. Disponível em: . Acesso em: .

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História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil e noutras partes sob o governo do ilustríssimo João Maurício conde de Nassau, de Gaspar Barléu (1647)

Gaspar Barléu ou, em latim, Caspar Barlaeus (Antuérpia, 12 de fevereiro de 1584 — Amesterdão, 14 de janeiro de 1648) foi um teólogo, humanista, poeta, historiador e polímata holandês. Escreveu um relato do Império colonial holandês no Brasil, inspirado pela atuação de João Maurício de Nassau (Johan Maurits) em Recife que, contém grande número de mapas e ilustrações da região.


Fragmento

Tópico intitulado Lichthart tala o território baiano:

O vice-almirante Lichthart e o coronel Carlos Tourlon partiram para a Baía com poderosa esquadra de 20 naus, que levava 2.500 homens de armas. Desembarcando ali os soldados, deram provas horrendas de cruéis do seu furor bélico. Reduziram a cinzas todos os engenhos de portugueses, menos três; tomaram ou queimaram quantos navios pequenos encontravam aqui e acolá ; devastaram e depredaram, à vista dos cidadãos, as lavoiras circunvizinhas, os casais, granjas e prédios. A ilha de Itaparica e outras foram inteiramente postas a saque, para não se mencionarem outros danos, porquanto em parte alguma estorvou ou sustentou o inimigo a nossa violência. Trucidavam-se a ferro os homens e os que podiam pegar em armas. Foram poupadas somente as mulheres e crianças. Estas duas classes de pessoas inspiraram compaixão e lograram escusa, visto como é cruel fazer das mulheres o prêmio da guerra, e contra as crianças, que há tão pouco tempo vieram ao mundo, nem mesmo a calúnia tem que dizer.

No Porto do Francês, recebeu nas naus o coronel Koin [Johann von Koin] três companhias militares, seguindo em direitura do Rio Real, sujeito aos espanhóis, para fazer ali igual devastação. A razão deste feito foi aliviar Pernambuco da penúria de mantimentos, mudando-se para o território inimigo o teatro da guerra, pois em outra parte haveria sustento para os nossos soldados. Acresciam ainda estas razões : serem dali fáceis as incursões nas capitanias portuguesas; ser preferível levar para fora a violência da guerra a sofrê-la dentro das próprias fronteiras, destruindo, assim, as plantações e safras dos adversários e impedindo a captura do gado de que se alimentavam ; que somente com esta estratégia poderia induzir-se o antagonista a velar pela própria defesa, retirando das províncias holandesas as suas tropas ; além disso, ocupadas em outros lugares as nossas forças, gozariam os súbditos holandeses mais tranquilidade.

Tópico intitulado Razões de se talarem as terras inimigas:

Enquanto, porém, nos demorávamos ali, desforçando-nos a ferro e fogo não se encontrou gado suficiente para os holandeses, porque as tropas de Barbalho, em suas idas e vindas através daquela região, tinham acabado com êle. Também, quando chegou o coronel Koin, já se havia ordenado aos ribeirinhos do Rio Real e do Itapicurú tocar para a Baía de Todos os Santos todos os armamentos que houvesse. Sendo esta a situação, desejava Koin ser útil noutra parte, pois não se lhe deparara ensejo de fazer mal ao inimigo em trecho algum daquele território, que percorrera numa extensão de vinte léguas. E já o major Brand ouvira de prisioneiros inimigos que D. Jorge de Mascarenhas, vice-rei do Brasil, velejara para a Baía com uma esquadra de 18 navios, que transportavam 2.500 homens, entre gente de mar e guerra ; que levara consigo cinco mestres de campo ; que, por mandado do rei, fora detido o governador, Conde da Torre e que Barbalho recebera ordem de voltar para Portugal.

Marchando corajosamente para o interior à frente do seu batalhão, logo foi esse mesmo Brand cercado e batido pelos adversários, e sofreu não pequeno desbarate, mortos cem dos seus e aprisionados diversos, entre os quais êle próprio.

Tópico intitulado Ataque frustrâneo contra o Espírito Santo:

Koin, homem aliás de grande ânimo e prudência, tentou frustrâneamente opugnar a vila do Espírito Santo, na capitania desse nome, malogrando-se a empresa pelo pouco traquejo dos soldados e por falta de navios menores, a qual impedia o rápido desembarque das forças. Demais, avisado previamente, o inimigo munira com obras apressadas a vilazinha, mandara vir em auxílio brasileiros do Rio de Janeiro e se recolhera a um morro, donde com cinco peças atacava proveitosamente os holandeses. Forcejando o coronel por galgar o tope do monte para dali expulsar o adversário, foi obrigado a bater em retirada pela pusilanimidade e covardia dos seus. Incendiaram estes a vila em vários pontos, mas não pegou fogo, graças às casas construídas de tijolo. Foram levadas do rio somente duas naus de carga com 450 caixas de açúcar ; mas o inimigo disparou a artilharia contra elas e desconjuntou-as todas, de sorte que foi o seu doce lastro transportado como presa para outras naus. Dos nossos tombaram mortos sessenta soldados rasos e alguns de posto mais alto, e ficaram feridos oitenta.


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