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Este mapa encontra-se no Descripção de todo o Maritimo da terra de S[an]ta Crvs chamado uulgamento o Brazil, por João Teyxeira Cosmographo de sua Maiestade, anno 1640, cuja autoria é de João Teixeira Albernaz, o Velho. Ele é acompanhado de mais dois mapas do Espírito Santo. A obra está na Biblioteca Nacional da França, em Paris.
Junto com o mapa, há a seguinte descrição:
Do porto do Spirito Santo que esta em 20 graos e hum quarto, corre a costa ao Norte, e toma alguma cousa de quarto de Nordeste, até a ponta a que chamão do Rio Doce, em distancia de doze legoas; em toda ella naõ ha outro porto nem Surgidouro, mais que do Spirito Santo, que hé hum dos notaveis da costa do Brazil, tem barra de bom fundo, na entrada e dentro no porto surgem em tres braças, a terra he fertil, tem alguns Engenhos de assucar; he fresca e de bons ares.
Os topônimos presentes no mapa são:
de leonardo froes
De francisco de aguiar
Trepiche
Do Azeredo
Pão d’Assucar
Ilha de Duarte de Lemos
Villa do Spirito Santo
Ilha Escaluada
Morro de Ioaõ Moreno
Vila Velha
Ilha de Viuua
Ilha de Aña Vas
4 Penedos
Ilha de Valentim nunez
Ilha de Dom Jorge
Abrolho
rio Moroipe
Ponta do Tubaraõ
Serra de Mestre aluaro
Rio das Barreiras
Serra de Mestralvaro
Aldea dos Reys magos
Reys Magos
Rio doce
Ponta do Rio doce
É possível perceber como a cartografia funciona como instrumento de navegação, destacando os acidentes naturais como marcos do território do Espírito Santo da mesma forma que é feito nos roteiros de navegação do século XVII.
Esses marcos aparecem nos mapas que vão do Porto de Vitória à Ponta do rio Doce. Neles, mais uma vez o cartógrafo afirma que não há muita coisa entre os dois pontos: “naõ á outro porto. Nem surgidouro mais que o do Spirito Santo”, sendo este um dos mais notáveis do Brasil. Escreve ainda que a terra é fértil, fresca e de bons ares – acompanhando os relatos dos viajantes e cronistas do século XVI –, além de ter alguns engenhos, que são identificados nos mapas. Apesar de não haver portos importantes ali, há pelo menos os citados marcos de reconhecimento do litoral para quem se aproxima das vilas do Espírito Santo.
O Mestre Álvaro, o Morro do Moreno, a Ponta de Tubarão, e o Penedo (Pão de Açúcar) apontam a entrada da baía e chegada nas vilas. Sobre o Mestre Álvaro, é possível dar como exemplo o que está na Prática da arte de navegar, de Luis Serrão Pimentel:
nesta paragem, vendo uma serra alta e redonda ao longo do mar, a que chamam a Serra do Mestre Alvaro, e vindo de mar em fora demandar esta serra, da banda do Norte dela, se verá um rio, a que chamam dos Reis Magos; e vindo ao Sul dele logo descobrireis a boca da Baía do Espírito Santo[1].
Pimentel, portanto, utiliza a serra como marco da aproximação da baía do Espírito Santo. Isso também pode ser lido, com as mesmas palavras, no já citado Regimento de pilotos e roteiro da navegação, e conquistas do Brasil (…)[2]. O Mestre Álvaro também aparece na Arte de Navegar de Manoel Pimentel, filho de Luis Serrão:
Mais para o; Sul seis leguas está outro rio pequeno chamado dos Reis Magos, e duas leguas delle para o Sul se vê huma serra alta, e redonda ao longo do mar, a que chamaõ a Serra de Mestre Alvaro, no fim della da banda do Sul está huma ponta de pedra chamada Ponta do Tubarão, e daqui ao Espirito Santo ha quatro leguas. A bahia do Espirito Santo he estreita, mas capaz de navios grandes: tem na ponta do Sul hum morro, a que chamaõ Monte Moreno, e meia légua para dentro da bahia está outro monte, que parece hum paõ de assucar feito de forma (…)[3].
A já citada Historia ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até ao fim do anno de 1636, escrita por Johannes de Laet, descreve a chegada de uma armada holandesa no Espírito Santo, e mostra como também os holandeses reconheciam o litoral do Espírito Santo a partir dos mesmos marcos geográficos:
A 3 de Março, sendo chegado quase em altura de 19º, assentou de seguir para o Espirito Santo, onde faria um salto. (…) Ao outro dia avistou a Serra do mestre Alvaro, mas, vendo que não podia entrar no rio com dia, fez-se algum tanto ao largo, por não ser visto dos de terra.
Alguns mapas portugueses confundem o Mestre Álvaro (como ficou conhecido) com outra serra mais próxima à ilha de Vitória. A partir de 1640, surge nos mapas uma segunda serra com o mesmo nome, só que ao norte do “Rio das Barreiras”. Nos mapas desse ano e também nos de 1642, o leitor pode ver as duas serras que recebem o mesmo nome:
- Uma delas a oeste da “Ponta do Tubaraõ” e entre o “Rio Moroype” e o “Rio das barreiras”
- A outra entre o mesmo “Rio das barreiras” e os “Reys Magos”.
A aldeia jesuítica dos Reis Magos aparece no interior do mapa, atrás da serra. Nos mapas posteriores, a serra mais ao sul passa a se chamar apenas “Serras”, deixando o nome de “Mestraluaro” para aquela mais ao norte.
Na sequência, os três mapas mostram uma serra (representada por três morros) sobre o nome “Reys Magos”. Este topônimo parece um equívoco, ou talvez uma justificativa para o nome da aldeia jesuíta pouco mais ao sul. Não há muitos morros de destaque nas proximidades da igreja, e nenhum cronista aponta a existência desses morros. De fato, o que há nos textos da época são três ilhas à entrada do rio, que também recebe o topônimo de “reys magos” nos mapas. Aqui, a aldeia não é mais representada pela quadra com a cruz ao centro, mas por um conjunto de construções, casas de tamanhos e formatos diferentes, mas sempre nas proximidades de uma cruz elevada.
Mais ao norte, o cartógrafo chama de “rio Doce” o que, em seus mapas anteriores, recebia o nome de “Riacho”. Ali próximo está a aldeia e a serra de “Reys magos” e, na mesma altura, no litoral, surge um conjunto de morros, que recebe o nome de “Serra de Mestraluraro”. O equívoco é que o Mestre Álvaro está muito mais perto da ilha de Vitória, como visto no mapa de 1640 e em outros. No mapa de 1642, está escrito apenas “Serras”[4], e no mapa de 1646 não há nada.
Por fim, é próximo às vilas que se encontram os topônimos que sem dúvida vieram do mapa de Luís Teixeira. Ali, temos novamente o nome da “Ilha de Duarte de Lemos”[5] e das ilhas menores, da “ponta do Tubarão” e do morro de “João Moreno”. A vila ocupando a ilha volta a se chamar “Villa do Spiritu Santo” – a mesma inversão de nomes vista no mapa de Luis Teixeira (ver Capítulo 2). A ilha principal do arquipélago, onde está Vitória, aparece nesse mapa dividida em duas[6]. Na parte superior há a vila, e na inferior estão escritos os nomes das ilhas menores.
Isso não acontece nos mapas posteriores. Ao invés de mostrar os nomes dessas pequenas ilhas, o cartógrafo escreve os nomes das principais igrejas da vila de Vitória, além de desenhá-las.
Nesta obra, este mapa é acompanhado de mais dois mapas do Espírito Santo, como pode ser visto abaixo. Cada um deles é acompanhado de uma página com uma descrição do mapa. Clique para acessar informações de cada um: