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13/06/1648: Carta para o Desembargador Manuel Pereira Franco
Recebi a carta de V. M. feita no Espírito Santo em que V. M. me adverte da queixa que ai li achara de o capitão de Infantaria Manuel de Almeida levar toda a imposição dos vinhos para si e para seus soldados e a noticia que V. M. tivera de que no Rio de Janeiro havia trinta mil patacas em deposito por serem de Castelhanos ausentes além destas advertencias de V. M. se me fizeram outras de não menos consideração antes de muito reparo, e são que com a vinda do Capitão Marcos Alberto que foi provido de Provedor da Fazenda daquella Capitania proveu o capitão-mor della o cargo em um Antônio Dorta homem de nação, e com a loja aberta, pessoa totalmente indigna por todas as circumstancias de servir a Sua Magestade naquelle posto principalmente havendo sido o anno passado o ultimo de seis que teve os dízimos de cujo contracto está devendo muitos mil cruzados, ficando sendo Juiz e mais parte assim nesta cobrança como no muito que está devendo á Fazenda Real seu cunhado e tio Simão Luís do arrendamento dos Engenhos de Gurupari [Guarapari] que teve seis annos e que no provimento deste cargo, como em outros de Guerra, entraram três homens de nação e um tanoeiro. E que havendo Sua Magestade mandado por carta sua que naquella Capitania se assentasse a imposição e donativo dos vinhos na forma que se havia feito em todas as mais do Estado. e havendo mais de um anno que se cobrava os officiaes da camara por permissão de quem lh’o consentiu podendo evitar-lho levantou a dita imposição sendo um dos mais efficazes incentivos haver chegado uma nau com muitos vinhos da qual trazendo cento e tantas (pipas?) se não haviam dado de entrada mais que quarenta, e sonegado quarenta e tantos moios de sal, em que a Fazenda de Sua Magestade ficou lesa em mais de dous mil cruzados. E como todas estas matérias são mui prejudicraes a seu Real serviço convém dar-se-lhe o remédio que sua qualidade está pedindo V. M. tanto que esta receber se estiver ainda no Rio de Janeiro, em virtude della, que assim o hei por bem, e serviço de Sua Magestade tire informação e avengue com a maior certeza e infallibilidade que ser possa se há o deposito que já era aqui informado que alli havia de trinta mil cruzados, ou patacas de ausentes em Castella; e achando que as ha embargue o tal deposito por parte de Sua Magestade na mão da pessoa ou pessoas que o tiverem té nova ordem minha sobre este particular e nos mais acima referidos;tanto que V. M. chegar á capitania do Rio de Janeiro, não communicando V. M. cousa alguma do que nesta carta lhe ordeno, e encarregando-o assim mais apertadamente em meu nome ao escrivão das devassas, a tire V. M. de todas as matérias nesta carta apontadas assim dos provimentos, como da imposição, e entradas dos vinhos sonegação do sal, despesa da mesma imposição e donativo dos vinhos e tudo o mais que aqui se me advertiu e se me escreveu. E de tudo me envie V. M. na primeira embarcação os treslados com informação particular e exactissima de tudo o que constar, e V. M. achar principalmente do sujeito que está servindo de Procurador e do mais pertencente ás dependências de elle o ser para eu tomar a resolução que parecer mais convemente ao serviço de Sua Magestade para que se cobre e restitua a sua Real Fazenda tudo o que ahi se lhe tiver occulíado, e permittido que se lhe descaminhasse, avisando-me V. M. na forma referida de tudo com o mesmo segredo com que tiver obrado. E faça V. M. por se antecipar nas diligencias destas e das mais matérias que lhe encarreguei por seu Regimento tudo quanto poder para visitar as mais capitanias sem perder monção. Guarde Deus a V. M. Bahia 13 de Junho de 1648.