UM MÊS ATRÁS, UM INCÊNDIO ACIDENTAL DESTRUIU O MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA, NA ESTAÇÃO DA LUZ, EM SÃO PAULO. TODOS OS ANDARES FORAM ATINGIDOS E TODO O SEU CONTEÚDO VIROU PÓ. COMO É QUE NADA FOI PERDIDO?
Ninguém discordará que a maior tragédia do incêndio foi a morte do bombeiro Ronaldo Pereira da Cruz. Herói, acompanhou a saída de todos e lutou para apagar o incêndio até o fim. Ninguém vai negar, também, o valor histórico do prédio onde estava o Museu, e que foi todo destruído por dentro: o edifício da Estação da Luz, no centro de São Paulo, é uma bela obra arquitetônica com mais de um século de existência. Mas do conteúdo do Museu em si, do seu acervo, o que foi perdido? Nada.
No dia do próprio incêndio, jornalistas partiram para cima de Isa Ferraz, curadora do museu, querendo saber sua opinião quanto à tragédia. Apesar de toda a preocupação com o edifício e com as pessoas, Isa se mostrou relativamente tranquila quanto às outras perdas materiais do museu:
“Nós temos todos os arquivos e os acervos de todo o conteúdo. Há cópias, mas é preciso ver em que estado está o material, se há interesse da fundação e do governo do Estado de SP de revê-lo, mas toda a pesquisa a gente tem. Todos os roteiros”.
Está tudo digitalizado. Ou quase tudo: nas pilastras do museu havia ainda alguns quadros com peças relacionadas às culturas dos lugares onde o Português é falado, mas ainda assim poucas peças, nenhuma insubstituível. A preocupação de Isa, na pior hora, era com a qualidade das cópias digitais do acervo, e se as instituições financiadoras aproveitarão para rever e modificar o acervo. Ponto. Com toda a sua importância para a cidade, o estado e o País, o Museu da Língua Portuguesa têm um acervo todo digital. Ao abrir suas portas todos os dias, antes do incêndio, ele dava acesso ao público a documentos, histórias únicas da construção do nosso idioma sem precisar estar com o próprio documento sem precisar manusear, controlar acesso, tomar difíceis cuidados de preservação ou colocar em risco nossa história no caso de uma tragédia como essa.
E isso é extremamente importante hoje, um momento em que nós temos condições de digitalizar o que quisermos e, além de preservarmos tudo, facilitar o acesso a todos.