31/03/1560: Carta de Mem de Saa, governador do Brazil para El Rey em que lhe da conta do que passou e passa lá e lhe pede em paga dos seus serviços o mande vir para o Reino. A 31 de Março de I560. Reinado do Snr. D. Sebastião

Referência

BIBLIOTECA NACIONAL. Annaes da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro (Vol. XXVII). Rio de Janeiro: Officina Typographica da Biblioteca Nacional, 1906. pp. 227-229. Disponível em: . Acesso em: .

Créditos

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31/03/1560: Carta de Mem de Saa, governador do Brazil para El Rey em que lhe da conta do que passou e passa lá e lhe pede em paga dos seus serviços o mande vir para o Reino. A 31 de Março de I560. Reinado do Snr. D. Sebastião

Senhor— por outra via escrevo a vosa altesa o que me socedeo na guerra que tive com o gentio do peroaçu e com os franceses do Rio de Janeiro onde se achou bertolameu de vasco xoncelos da cunha que veo por capitão morda armada e o fez também que merece merce e os mais capitães e mais gente todospelejaram bem / A capitania da baia quando me de la parti ficava muito de paz e o gentio todo muito sogeito e mais pacifico que nunca. /

// a cidade vai em muito crecimento e co estas terras que se agora sogeitarão se podia fazer hum Reino soo ao redor da baia sam boas em estremo para tudo o que nelas quiserem fazer /

// os padres da companhia escreveram a vosa altesa quanto ã fee de noso Senhor se estende polo gentio da baia parece qiie he chegado o tempo em que ha por seu serviço que este gentio participe de tamanha merce./ .

// a doze do mez de novembro pasado se bautisaram em hum dia na Igreja do esprito santo que he sete legoas da cidade coatrocentas e trinta e sete pesoas / muitas mais se bautisariam cada dia / estes são os que sabem a doutrina milhor que muitos cristãos / em outras Igrejas se bautisaram e bautisam outros muitos haa escolas de trecentos e sesenta moços que jaa sabem ler e escrever./

// eu tevera feitas outras muitas Igrejas se tevera com que para isto pedia o podbr perdoar as culpas que aconteceram despois da mínha vinda para apricar as penas a estas obras ; por que as outras da justiça pelas leis do Reino são as mais (vezes ?) apricadas aos cativos. Esta terra não se deve nem pode regular polas leis e estilos do Reino se vosaaltesa não for muito facil em perdoar não terá gente no brasil / e porque o eu gainhei de novo desejo de se ele conservar. / os meios para iso necesareos eu os escrevi a vosa altesa o anno pasado e lhe lembrava quam necesareo era pôr nestas capitanias capitães onrrados e de boa conciencia. Agora o vi quando corri a costa / porto seguro esta para se despovoar por causa do capitão / os Ilheos se [lhe não acudira ouverase de perder e ouverão de matar o capitão / no esprito santo estão tres filhos de Vasco fernandes coutinho moços sem barbas e todos são capitães / os de são vicente estão casi alevantados se vosa alteza quer o brasil povoado he necesareo ter outra ordem nos capitães como jaa escrevi. /

// em chegando a Capitania do espirito santo achei huma carta de Vasco fernandes coutinho em que rogava ao ouvidor da capitania que em seu nome renunciase a capitania e lhe mandava per Íso procuração bastante: os moradores estavam jaa todos para se hír e quando isto souberam se foram a mim co as molheres e mininos pidindo que a tomase para vosa altesa asi o fiz como vosa altesa pode mandar ver por hum auto que diso fiz- com parecer dos capitães ate o fazer saber a vosa altesa filo (para que) se não perdese huma tão boa capitania e polo (m)uito que os padres da companhia tem feito com o gentio / haa muitos cristãos e bem doutrinados / a terra he boa ha nela muito brasil e bom / os armadores pasados como souberem que he de vosa altesa tor­narão a armar se lhes mandar falar niso. /

// não escrevi a vosa altesa particularmente as diligencias que aviam de fazer os homens qqe mandava pedir paras vilas que fazia do gentio por serem muitas / agora por menos despesa e pola necesidade que avia deles ordenei de fazer hum meirinho dos do gentio em cada vila por que folgam eles muito co estas onrras e contentamse com pouco / com os vestirem cadanno e as molheres huma camisa dalgodam bastara e isto deve vosa altesa mandar que lhe dem./

// tambem mandei fazer tronco em cada vila e pelourinho por lhes mostrar que tem tudo o que os cristãos tem e para o meirinho meter os moços no tronco quand o fogem da escola e para outros casos leves com autoridade (de) quem os ensina e riside na vila (eles) são muito contentes e recebem milhor o castigo que nos. //

// os poderes que mandava pidír a vosa altesa pídíos pola es periencia que da terra tenho e por quam necesareos são aos governadores / e devese vosa altesa lembrar que povoa esta terra de degradados malfeitores que os mais deles mereciam a morte e que não tem outro oficio se não ordir males, se o governador não tever poderes largos na justiça para castigar, e perdoar / he ca po(uco) necesareo/ e o ouvidor fica com muito mor jurdição e fazem o que querem / e quando os mandão responder dizem que cabe na sua jurdição / ou alçada aos oficiaes da camara mostrei as determinações que se tomaram na mesa da conciencia sobre o resgatar do gentio e as mandei escrever no livro da camara eles receberam isto muito mal por que não tem outros proveitos na terra sobre Íso escrevem a vosa altesa bem me parece a mim que se os da conciencia foram milhor enformados que em algumas cousas foram mais largos. Eu trouve hum escrivão para escrever as provisões qtie paso e outras cousas muito necesareas que he imposivel podelas fazer por my não no pidi a vosa altesa parecendome que era isto ordinário como o teve tomé de sousa ate- gora lhe não pagaram peço a vosa altesa lhe mande pagar o tempo que ha que me serve asi como se pagou ao de tome de sousa por que lhe não psig(ue) de minha casa: os negocios do brazil vao crecendo muito e avia mester hü governador dous escrivães./

// peço a vosa altesa que em paga de meus serviços me mande hir para o Reino e mande vir outro governador porque afirmo a vosa altesa que não são paresta terra eu nela gasto muito mais do que tenho dordenado o que me pagam hee em mercadorias que me não servem e eu fui sempre ter guerra e trabalhos onde ei de dar (de co)mer aos homens que vão pelejar e morrer sem seldo (nem ma)ntimento porque o não haa para lho dar. Sou velho, tenho filhos que andão desagasalhados / huma filha que estava no mosteiro de sancta caterina de sena em evora mandou frei luiz de granada que se saise não sei coanto serviço de deos nem de vosa altesa foi Deitar huma moça dum mosteiro na rua sendo filha de quem o anda servindo no brazil / noso senhor a vida e real estado de vosa altesa acrecente/ Do Rio do Janeiro o derradeiro dia de março— Men de Saa (Mem de Sá)— //

 

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