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08/02/1609: Carta para El-rei, dando conta da chegada à Baía, do estado da terra, do apresto do galeão de D. Constantino de Menezes, para o que havia mandado de Pernambuco o sargento-mór Diogo de Campos Moreno, das providências tomadas para forçar o galeão a fazer-se à vela ; sobre as despesas feitas com o mesmo galeão, para as quais lançou mão do dinheiro da imposição na quantia de oito mil cruzados ; sobre Alexandre de Moura, que ficou em Pernambuco com o cuidado das cousas da Capitania ; sobre Sebastião de Carvalho, que dali veio em sua companhia e continuava com a devassa do pau-brasil ; sobre a naveta inglesa que entrou no Espírito Santo ; sobre remeter preso Sebastião Martins, pela devassa que se tirou dele e seu irmão, mestre e piloto da caravela, do que aconteceu às orfãs que trouxeram
Senhor. — Cheguei a esta cidade dia de nossa Snra. do O . 17 [aliás 18] de dez.° onde achei todos quietos e em paz, no particular do governo delia não auizo a V . M.de pella brevidade do tempo para o poder fazer como conuem mas pellas primeiras caravelas que partirem o farei.
De Pernãobuquo [Pernambuco] tinha mandado o sargento mor Diogo de Campos pera me ter prestes o necessário ao galeão que a qui arribou, pera que eu pudesse mandallo conforme tinha auisado a V . M ag.da elle o tinha tão bem feito que quando cheguei não foi neçessario mais que meter lhe mantimentos e mandallo como fiz.
Ontem que forão 4 deste deu a uella deste porto mui bem aparelhado como V . M ag.de uera na Relação que com esta lhe mando, do custo e despeza que fez e do estado em que aqui chegou, e por que V . Mag.de entenda quanto importa, o seruir sse de gente benemerita, me pareçeo necessário auisallo como dom Constantino, pella sua arribada mereçera mui bem castigado, pois sem nhuã causa o fez por que a maior que apontou foi a falta de agoa, e quando aqui chegou trasia 45 pipas de agoa debaixo do lastro e cinco de vinho e depois de chegar a este porto deixou fugir toda ou a mor parte, da gente do galeão e a que ficou se deo tão boa manha, que os mantimentos se uenderão e se não acharão mais que os que se vem pella lembrança que mando, e assi me foi forçado dar de comer aos que se não quiserão ir ategora, e aos mais que me foi forçado compellir pera benefficio do galeão como tudo V . M ag.de vera na dita Relação que mando.
E pareçe que nem o Capitão nem a mais gente se querião ir daqui, por que me foi forçado ir ontem, a faser lhe Ieuar a amarra, com gente armada e assi o fis faser a uela ã força e bem o mostrou por que chegando a boca da barra, deitou outra vez ferro, e esteue ahi esta noite e a esta ora esta sem lhe ser necessário cousa alguã, pera effeito de faser sua uiagem, por que de tudo estaua prestes, e aparelhado, mandei com elle duas caravellas pera o irem acompanhando até sair da barra e tanto que surgio se uierão embora.
Mais fez o Capitão por respeito do guardião da nao ter brigas com hum ministro a quem tinha encarregado a arrumação, e aparelho da nao por ser mui a gente e trabalhador neste particular mui á satisfação e como cumpria ao seruiço de V . M ag.de o qual se chama Gaspar da Costa, morador nesta capitania a quem tenho promettido V . Mag.de lhe faria mercê mandei ao ouvidor geral, fosse ao galeão e o prendesse o que elle fez como lhe mandei e chegando lá pera fazer a diligencia, o Capitão lha não quis deixar fazer mas antes teue com elle más palauras, mandando tomar armas para elle, e depois ficou como quasi aleuantado sem nunqua mais uir a terra de que tudo mandei fazer autos e tirar testemunhas que mando a V . Mag.de pera que o mande mui bem castigar o que eu não fis aqui por me pareçer seruira mais a V . M ag.de em mandar o galeão a índia e de tudo isto auisei tambem a Rui Lourenço de Tauora pera que fisesse o que lhe pareçe, mais seruiço de V . Mag.de e até que nestas cousas V . M ag.de não mandar faser hum castigo exemplar assi nos Capitães como nos homens do mar não sera bem seruido.
São tantas as necessidades com que este estado esta que me foi forçado para o aparelho deste galeão valerme do dinheiro que achej da imposição por ser cousa a que se não faria agrauo, nem pressão aos moradores e estaua depositado sem fruto nhü pois V . Mag.de não mandaua corer com a fortificação desta cidade e assi entretanto, podia V . M ag.de acudir para se auer de pagar donde lhe parecesse e se pode faser do dinheiro da finta que qua está e ficarsse pagando e não fazendo falta a nhüa parte e assi tudo o que se gastou no galeão foi comprado a dinheiro de contado e sem se tomar a ninguém cousa alguã contra sua uontade e no pouco que custou o auiamento dele vera. V . Mag.de o que importa á sua fazenda fasersse assim e não com uiolencias, por que destas ficasse tirando pouco fruto pera ella e das partes e aproveitandosse os ministros ou quem se não são fieis.
E assim torno a pedir a V . M ag.de de merce queira mandar acudir com o dinheiro que neste galeão se despendeo que são oito mil cruzados pera se poder satisfazer a imposição ou manda que se leuem em conta ou se paguem do dinheiro que qua está da finta ou doutra parte que a V . M ag.de parecer mais seu serviço pera se poder acudir ás ordinarias despezas do Estado.
A Alexandre de Moura deixei encomendadas as cousas que me parecerão necessárias daquella Capitania e principalmente o forte que deixei começado na Lagem e assi uim descanssado por entender elle o faria mui bem feito, porque he bom soldado e tem grande zello do serviço de V . Mag.de e mereçe que V . Mag.de lhe faça muita merce pello cudado que de seu seruiço tem procurando não aia falta e principalmente nas cousas da guerra que fas mui puntualmente.
De poluora fica este estado em necessidade he necessário mandar V . Mag.de acudir com breuidade e porque não tiue ainda tempo de mandar uer a que aqui ha a não mando na certeza mas talvez nas primeiras carauelas que ficão pera partir, que será por todo este mes e assi da que fica nas mais fortalezas do norte.
O Desembargador Sebastião de Carualho ueyo de Pernãobuquo em minha companhia e uai continuando com a deuassa de pao Brasil ir sse ha mui brevemente por que se lhe acaba o tempo da segunda prouisãó, da prorrogação dos seis meses que V . Mag.de mais lhe concedeo, e iuntamente acabando as diligencias que tem a cargo que tudo fas com grão inteireza e limpeza.
A prouisão de que V . M ag.de fas menção na minha carta lhe manda uá ao Spirito Santo aueriguar a entrada daquella naueta ingresa não he qua chegada porque deuia encaminhar sse lhe pella uia de Pernãobuquo tenho ordenado e feitas prouisões pera mandar ao licenceado Antonio Maia que tenho por letrado de confiança aquela Capitania tirar deuassa do Capitão delia Francisco de Aguiar Coutinho, por uirtude da prouisão que V . Mag.de passou a instancia de Leonardo Frois e que o suspendesse na forma delia e mandasse a esta cidade durante a deuassa e nesta ausência tenho prouido por Capitão a Constantino de Menelao, a quem V . Mag.de me manda por huã carta sua entretenha no que ouver lugar até entrar na Capitania do Rio de Janeiro em que está prouido e porque a prouísão em que V , Mag.de manda ir a dita Capitania ao dito Sebastião de Carvalho, pode tardar e a monssão em que póde ir se acaba neste mes de feuereiro e dahi em seis meses he contraria acreçentei esta commissão ao mesmo letrado, e nella tem pouco que fazer, mas que notificar ao dito Capitão Francisco de Aguiar se ua descarregar daquela culpa diante do marquez Vice Rei na forma que V . M ag.de manda, por ser matéria sem duuida e que está per autos e fé de Escriuães que tenho em meu poder per que consta entrar a dita naueta no tal porto sem sua licença não deferindo aos requerimentos que sobre isso lhe fez o prouedor da fazenda.
A naueta e gente delia he ida ha muito tempo e não me consta que leuasse carga alguã e que a que trasia descarregou na Alfandega, por ordem dos offiçiais da fasenda, e se dizimou conforme ao Regimento de V . M ag.de E se estas diligencias de que mando se me auise logo se não fiserem como convem e se mouer alguã duvida que não deue irá logo a ellas Sebastião de Carvalho ou a Ouvidor geral com toda a breuidade largando todas as mais que estão fasendo do seruiço de V , Mag.de e não mandei a esta diligencia o Ouvidor geral por. estar ocupado nas folhas que V . M ag.de manda se fação pera despeza de sua fasenda e outras cousas que conuem a seu serviço.
Nesta carauela mando Sebastião Martinz preso e entregue ao mestre delia que se chama Antonio Luis o qual mando se entregue no Conselho e a quem o Presidente mandar, o porque vai preso he pella deuassa que delle e seu irmão mestre e piloto da sua carauela os quais trouverão as orfãs e lhe aconteceo no caminho o que consta pella deuassa que já tenho mandado a V . M ag.de cuia Catholica pessoa Nosso Senhor guarde etc. da Baya em 8 de fevereiro 609
Dõ di.° de meneses