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10/02/1649: Carta que se escreveu ao mestre de campo Dom Luiz d’Almeida ao Rio de Janeiro
Supposta a certeza da nova que aqui chegou de ser partido de Lisboa governador para essa praça dou a V. S.ª o parabem de achar successor nella antes de entrar nas experiencias do trabalho de seu governo porque ainda que foi grande o da jornada por terra é maior o em que considerava a V. S.ª lidando com essa gente cuja condição eu só imaginava reduzida com a prudencia de V. S.ª mas já que o serviço de Sua Magestade perdeu esse acerto e essa Capitania essa felicidade eu não estimo por pequena a de V. S.ª vir antes descançar a esta praça donde fico esperando por V. S.ª com o gosto que devo á repugnancia e sentimento com que tirei a V. S.ª della.
Mas porque se V. S.ª se vier sem ficarem ao novo Governador as ordens que V. S.ª levava, se continuarão nessa praça os mesmos desserviços que nella se faziam a Sua magestade e convem prevenil-o de tudo o que pode ser util ao serviço de Sua Magestade e conservação dessa Republica tanto que V. S.ª receber esta carta, se achará V. S.ª com o novo governador na parte que parecer e alli lhe communicará V. S.ª todas as ordens que levava minhas para que elle as execute na mesma forma por não permittir a qualidade das materias sobre que as dei a V. S.ª dilação em seu effeito, excepto as de poder prover e de usar da jurisdição e mais poderes que eu communiquei só a V. S.ª porque só á pessoa de V. S.ª os communicara. E para elle poder executar algumas as ordens que V. S.ª lhe transferir e forem de maior jurisdição que a que tem por Governador e Capitão-mor dessa praça que é só a de que ha de usar eu lh’a concedo em particular na carta que lhe escrevo; e deste modo, ainda que essa Capitania não mereceu governal-a V. S.ª logrará pelo menos os acertos que conseguir o novo Governador não com effeitos do modo como creio que governa senão como disposição com que creio que governa senão como disposição da advertências que encommendo a V. S.ª lhe faça em tudo o que V. S.ª ahi tiver alcançado que convem antecipal-o assim para a conservação e segurança da praça para qualquer acommetimento do inimigo como para o socego, e quietação interior de seus moradores, para tudo o que importar obrar-se no serviço de Sua Magestade. De todas as ordens que V. S.ª lhe comunicar vocalmente lhe deixará V. S.ª copia, com os mesmos capitulos, que nellas tratarem, do Regimento que V. S.ª levou, para na mesma forma as executar, e procedor. A copia lhe dará V. S.ª firmada e eu lhe ordeno obre em virtude della, e me dê conta do que resultar.
Isto communicado fará V. S.ª apresentar logo a nau Hollandeza que se foi entregar a essa costa, e nella se embarque V. S.ª com a infanteria que levou e em entrando a monção dos sues se venha V. S.ª ao porto da villa de Victoria capitania do Espirito Santo donde estará Rodrigo d’Alencastre meu sobrinho com a nau Fortuna, que por se ter entendido não estava segura na parte em que V. S.ª a deixou pareceu mandar-se para donde não estivesse occasionado ao inimigo intentar recobrar a sua almiranta. Nesta mesma embarcação lhe faço aviso que esteja aprestado para que em V. S.ª chegando parrta com V. S.ª e venham ambas as naus com maior segurança. Ao Governador e provedor da fazenda dessa praça ordeno aprestem a nau e lhe mettam mantimentos com summa brevidade e a aplicação de V. S.ª a fará ainda maior. Em V. S.ª chegando ao Espirito Santo se antecipe V. S.ª a sahir com D. Rodrigo tudo quanto antes podér se para que mais depressa tenhamos o gosto de ver a V. S.ª nesta praça, a que Nosso Senhor se sirva trazer a V. S.ª a salvamento. Elle guarde a V. S.ª muitos annos. Bahia 10 de fevereiro de 1649.