Recebi a carta de Vossa Mercê de 9 de março dêste ano e nela vejo a conta que me dá de haver principiado a povoação cita no rio de São Matéus em companhia de oito camaradas, noticiando-me serem capazes de poderem fabricar nele muitas fazendas de que resultem grandes conveniências a Real de El-Rei meu Senhor e como me seguram que êsse lugar em que Vossa mercê de presente está situado, e a mais terra continente a êsse rio sôbre ser muito boa e abundantíssima de caças, pescados e madeiras: espero que em breve tempo se faça uma grande povoação e para que logo principie com forma de govêrno lhe remeto patente de capitão dos moradores dessa povoação, subordinado ao Capitão-mor da capitania do Espírito Santo por cuja via me dará conta de tudo o que for obrado. Eu lhe ordeno socorra a Vossa mercê com o que for possível.

Pelo que respeita aos religiosos que me diz deixara ficar para administrar os sacramentos às pessoas que aí assistem, hei de escrever ao Senhor Bispo do Rio de Janeiro a seu favor, e Vossa Mercê lhe representará a necessidade que tem de haver nesse lugar um sacerdote, por ser da sua jurisdição aquele provimento.

Ao Sargento-mor do Rio das Caravelas e ao Juiz Ordinário daquela vila hei de estranhar àsperamente o proibir-se vendesse tudo que lá se mandou comprar para sustento dêsses moradores e ordenar-lhe lhe dem prontamente tudo o que mandarem buscar pelo seu dinheiro.

Espero que Vossa Mercê assim como se animou a fazer a El-Rei meu Senhor o serviço de dar princípio a povoar essa terra a vá fazendo crescer com adquirir muitos moradores para ela, tratando todos de maneira que a petição a sua companhia e que se haja com tôda a vigilância para que os bárbaros que vivem nas aldeias vizinhas não façam o que costumam aos que vivem descuidados dos roubos, mortos e insultos que são costumados fazer.

Deus guarde a Vossa Mercê.

Bahia e agosto 29 de 1716.

Marquês de Angeja.