Referência

Demostrasaõ do Cabo de Saõ Thome athe o Spirito Santo. - [Escala ca. 1:550 000]. [ca. 1670]. - 1 mapa em 1 fólio: ms, color.; papel; 22x36cm. In: Livro da descripção de toda a costa do estado do Brasil que começa em o Rio da Prata e acaba no gram parâ debaxo da Linha Equinocial Feito por Ioaõ Teixeira Albernas Cosmographo dos Reinos de Portugal o Anno d 1670. – ca. 1670. – João Teixeira Albernaz, o Moço. Pert.: Hispanic Society of America, Nova Iorque. Disponível em: . Acesso em: .

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Créditos

Hispanic Society of America

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Não há mapas do Espírito Santo em anos posteriores a 1675, seja de Albernaz, o Moço, seja de outros cartógrafos portugueses. Acredito que essa ausência possa ser explicada pelo fato de os conflitos entre Portugal e nações europeias como Holanda e Espanha, com as quais enfrentava longas desavenças, terem terminado.  

A Paz de Haia (ou Paz de Holanda), assinada em 1661, pôs fim à guerra com os holandeses que vinha desde a década de 1580, e que levou à ocupação de diversos territórios do império português na América e na África.  

A Guerra da Restauração, contra os espanhóis, chegou ao fim em 1668, com o Tratado de Lisboa, o que permitiu um momento de estabilidade em Portugal. O reconhecimento, pela Espanha, do Império português independente, e pelos holandeses do domínio sobre os territórios brasileiros permitiu que os novos mapas portugueses definissem, mais uma vez, sua posse sobre o território do Brasil. 

Com esses mapas, encerram-se as representações da Capitania do Espírito Santo na cartografia portuguesa do século XVII. Eles unem dados sobre a região que vem desde o primeiro mapa de Luís Teixeira e passam por Albernaz, o Velho. Conclui, assim, o mapeamento da costa do Brasil e formam a imagem mais completa da América portuguesa do século XVII. 


Os livros deste tópico trazem algumas diferenças em relação aos anteriores de Albernaz, o Moço, mesmo que não muitas. Elas começam pelo título, que foi levemente alterado: Livro da descrição de toda a costa do (estado) do Brasil. Ambos estão na Hispanic Society of America, em Nova Iorque, Estados Unidos. 

Alguns topônimos foram esquecidos, trocados ou acrescentados. Há também diferenças nas cores utilizadas – incluindo detalhes em tintas douradas por toda região, com cores muito vivas, detalhes em vermelho, azul e dourado que fornecem um ar mais nobre e mais completo. 

Junto com as imagens digitalizadas dos mapas, recebi cópia de um catálogo interno da instituição, com algumas informações sobre as obras. Essas são as únicas informações que encontrei, de fato, apesar da falta de referência bibliográfica. Sobre o livro datado de 1670, está escrito: “A tradição decorativa portuguesa em manuscritos cartográficos está evidente na carta do Brasil, com seu cartucho e ponteiro norte coloridos e as iluminadas marcações douradas na rosa-dos-ventos e no brasão”. 

Os Portugaliae Monumenta Cartographica também se entregam diante das semelhanças entre todos eles, devido à proximidade cronológica. Mas ainda assim encontra diferenças, como o fato de, no livro de 1670, os títulos das cartas estarem no verso do desenho, enquanto que, em 1675, eles estão ausentes.  

Ainda de acordo com o catálogo da Hispanic Society, este livro, em contraste com os datados de 1666, inclui mais detalhes hidrográficos e um número maior de engenhos de açúcar. Discordo dessa posição, pelo menos em relação aos mapas da Capitania do Espírito Santo. Nesses: apenas o engenho de Monsanto aparece, nas proximidades de Guarapari, nos quatro livros de Albernaz, o Moço; e os dados hidrográficos diferem daqueles vistos em obras anteriores. Discutirei esses assuntos abaixo. 

É interessante o fato de que, apesar de os engenhos de Monsanto terem sido confiscados após a Restauração, eles continuaram sendo conhecidos como os “engenhos que foram de Marcos Fernandes Monsanto da Capitania do Espirito Santo”, mesmo em documentos oficiais.  

Esses engenhos foram arrendados a outros colonos e o seu rendimento era importante para a Coroa, como mostra esta carta de 1664, assinada pelo rei Afonso VI: 

encarrego ao Provedor-mor da Fazenda desse Estado a cobrança dos rendimento dos Engenhos de Guaraparim na Capitania do Espírito Santo, que foram de Marcos Fernandes Monsanto ausente em Castela, em que está feito seqüestro e represália por minha parte e que logo remeta a este Reino os açúcares procedidos deles e estando vendidos a dinheiro por letras, entregar ao Tesoureiro-mor dos três Estados. Encomendo-vos que para uma e outra cousa deis ao Próvedor-mor toda ajuda e favor que lhe for necessário para que estes rendimentos venham ao Reino pela necessidade precisa que há de se dispender na defensa dele a que estão aplicados. 

Biblioteca Nacional. (1944). Documentos Históricos: Cartas Régias – 1651-1667 (Documentos Históricos, Vol. LXVI). Rio de Janeiro: Typografia Baptista de Souza. p. 292.

Quanto à rede hidrográfica, não parece possível afirmar haver avanços: há, talvez, maior preocupação em apresentar os abrolhos, ao norte; em outros lugares as informações hidrográficas parecem simplificadas, como, por exemplo, as sondas que aparecem completas nos mapas do avô e estão incompletas nos mapas do neto, sem as numerações de profundidade do local.  

Perto do Cabo de São Tomé, desde os mapas de 1640, há um parcel, um banco de areia ou pedra debaixo da água para o qual os cartógrafos tanto chamavam a atenção – um detalhe importante para a navegação. Há ainda um canal entre o parcel e o continente, que poderia ser navegado453

O livro de 1670 é o primeiro a mostrar a “Aldeya de N: S: da Asumção”454, na altura do Rio Iriritiba. Ela é representada por três construções. Próximo a ela aparece a Ilha dos Franceses, que também está nos mapas de 1666. O desenho das ilhas já aparecia em Albernaz, o Velho, mas sempre sem identificação. Apenas agora elas recebem um topônimo. A ilha era famosa, ou acabou ficando, por ser conhecida e frequentada por franceses durante a ocupação de território mais ao sul, onde seria o Rio de Janeiro.  

Quanto aos arredores de Vitória, os mapas de 1666 e o de 1670 são essencialmente idênticos, com uma única exceção: a falta do Forte na ilha de Vitória. Em uma análise geral, nas representações das ilhas menores, ao redor da vila de Vitória, também são coloridas de azul e vermelho – e apenas a Ilha de Dom Jorge e a Escalvada são nomeadas. A vila é novamente um conjunto de casas, organizado e homogêneo, surgindo, na representação mais recente, duas torres mais altas.  

A vigia no centro da ilha agora é acompanhada de outra vigia na entrada da barra. Essa aparece no mesmo lugar em que mapas anteriores colocam um pequeno abrolho na foz do rio, entrada para as duas vilas do Espírito Santo. O mais interessante aqui é que Albernaz, o Moço, atualizou um topônimo estabelecido por Albernaz, o Velho (de “abrolho” para “vigia”), o que pode significar que ele recebeu novas informações sobre o Espírito Santo. A localização é a mesma, portanto é possível supor que tenham ali construído algum posto de vigilância, apesar de documentação sobre isso não ter sido encontrada. 

João Teixeira Albernaz, o Moço, utilizou, sem qualquer dúvida, os mapas de seu avô para fazer os seus, seguindo o padrão à risca. Padrão esse que veio, de verdade, de Luís Teixeira. O território é basicamente o mesmo, com algumas alterações apenas na ilustração do interior da capitania. Ali, há árvores com o mesmo estilo dos anteriores, mas também com arbustos, alguns com aparência de palmeiras ou coqueiros. As cores alteram entre verde, marrom, alguns até dourados (nos mapas da década de 1670), mas sempre de uma forma representativa, como verdadeiros símbolos, signos cartográficos. 

Esses mapas preocupam-se, principalmente, em repetir as informações presentes em obras anteriores, com pouquíssimas variações. De fato, o Brasil de então já estava todo mapeado. Além disso, na segunda metade do século XVII, a necessidade de fazer alianças políticas com outras nações europeias fez com que França, Inglaterra fornecessem “armas, mercenários, engenheiros, arquitetos e cartógrafos ao serviço de Portugal”455. Aos poucos, os engenheiros substituiriam os cartógrafos, encerrando essa etapa da cartografia portuguesa e iniciando uma nova. 

 

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