Referência

KNIVET, Anthony. Notavel viagem que, no anno de 1591 e seguintes, fez Antonio Knivet, da Inglaterra ao mar do sul, em companhia de Thomas Candish. In Revista Trimensal do Instituto Historico Geographico e Ethnographico do Brazil. tomo XLI, parte I, p. 183-272. Rio de Janeiro: Typ. de Pinheiro & C., 1878. Disponível em: . Acesso em: .

KNIVET, Anthony. The admirable adventures and strange fortunes of Master Antonie Knivet, which went with Master Thomas Candish in his second voyage to the south sea. 1591. in Hakluytus Posthumus or Purchas His Pilgrimes. vol. XVI, cap. VII, p. 177-289. Glasgow: James McLehose and Sons. 1906. Disponível em: . Acesso em: .

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As Incríveis Aventuras e Estranhos Infortúnios de Anthony Knivet (1625)

Os fragmentos abaixo foram retirados da edição de 2008 da Editora Jorge Zahar. O texto completo, que pode ser visto no final da página, foi publicado em 1878 pela Revista de Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Fragmento do Capítulo 1, intitulado O que aconteceu em sua viagem para os estreitos e depois, até ser aprisionado pelos portugueses:

O capitão-mor então achou melhor partir rumo à ilha de São Sebastião e, se lá não encontrasse nenhum dos outros navios, voltaria para a Inglaterra. No mesmo dia em que estávamos para partir de Santos, o Roebuck passou na embocadura do rio da Bertioga, onde estávamos, e descarregou um tiro de canhão. Respondemos com um outro e assim o Roebuck aproximou-se com seus mastros quebrados. Depois que se juntou a nós, chegamos mais perto da vila com o intuito de atacá-la com a nossa artilharia. Mas devido à pouca profundidade o galeão Leicester encalhou, e tivemos muito trabalho para desencalhá-lo e desembarcamos oitenta de nossos homens num pequeno rio perto da vila. Lá encontramos amplas provisões de raízes de mandioca, batatas, bananas e abacaxis. Quando os portugueses viram nossos homens no rio, mandaram seis canoas em nossa direção, mas nós, quando os vimos, atiramos na direção deles com a corrente de nossa bomba d’água, o que os fez retroceder. Assim, nossos barcos puderam voltar em segurança, com boa quantidade das ditas raízes. Em nosso navio havia um português que havíamos aprisionado no navio capturado em Cabo Frio. Esse português tinha ido conosco ao estreito de Magalhães e, vendo nosso fracasso, contou-nos de uma vila chamada Espírito Santo. Disse-nos que poderíamos ir até a dita vila com nossos navios e que, sem nenhum risco, poderíamos assaltar muitos engenhos de açúcar e conseguir boa provisão de gado.

As palavras desse português nos fizeram desistir de nossa intenção de rumar para São Sebastião. Partimos então para o Espírito Santo e assim, depois de oito dias, chegamos à entrada do porto. Após algum tempo, conseguimos lançar âncora na baía e logo mandamos nossos barcos sondar o canal, onde não encontramos nem metade da profundidade que o português nos tinha dito que encontraríamos. O capitão-mor, achando que o português nos desejava trair, sem nenhum julgamento mandou enforcá-lo, o que foi feito imediatamente. Naquele momento todos os sobreviventes desejavam desembarcar e atacar a vila. O capitão-mor não queria de jeito nenhum e argumentou contando-lhes das várias inconveniências. Mas nada os convenceu e estavam tão insistentes que o capitão-mor escolheu cento e vinte homens dos melhores que havia em ambos os navios e enviou o capitão Morgan, um soldado de especial habilidade em terra, e o tenente Royden para comandarem essa ação. Desembarcaram com um dos barcos em frente a um pequeno forte e afugentaram os portugueses que lá estavam. O outro barco seguiu mais adiante, onde se travou uma luta muito violenta. Nossos homens tiveram suas vidas rapidamente abreviadas, já que desembarcaram num rochedo que ficava em frente ao forte e, ao saltarem do barco, escorregavam com todas as armas no mar e assim a maioria deles se afogou. Em resumo, perdemos oitenta homens naquele lugar e, dos quarenta que voltaram, não havia um sequer sem uma flecha ou duas em seu corpo, e muitos tinham cinco ou seis.

Quando vimos que não teríamos sucesso naquele lugar, decidimos ir novamente à ilha de São Sebastião onde pretendíamos queimar um de nossos navios e então seguir para os estreitos mais uma vez.

Fragmento do Capítulo 4, intitulado As diversas tribos de selvagens no Brasil e nas regiões vizinhas: suas várias naturezas, costumes e ritos. As criaturas e outras coisas incríveis que o autor viu em suas inúmeras peregrinações durante muitos anos:

Da Bahia até os Ilhéus vive uma tribo de bárbaros chamados aimorés, que são homens de grande estatura. São muito resolutos e destemidos e têm os pés rápidos como cavalos. Esses canibais afugentaram os portugueses das ilhas e são tão corajosos que cinco ou seis deles podem atacar um engenho de açúcar habitado por pelo menos cem pessoas. Já vi um deles pegar um homem vivo e usá-lo para se defender como nós usamos escudos. Eles têm cabelos longos e negros, como os irlandeses selvagens. Não têm aldeias ou cabanas, vivem percorrendo a floresta como animais selvagens. Não temem passar por nenhuma região pois são tão rápidos que ninguém consegue atacá-los. Eles se alimentam pouco de carne humana e são um povo muito sujo, seus corpos estão sempre imundos de poeira, da sujeira do chão e das cinzas onde dormem.

No Espírito Santo vivem canibais de um tipo chamado temiminós. Esses índios são homens de boa estatura. Já estive em batalhas contra eles, muitas delas com os portugueses, em um lugar chamado Morogege. Eles têm muitas aldeias nas ilhas que ficam no rio Paraíba, todas fortificadas com enormes pedras enfileiradas feito altas paliçadas. No lado de dentro dessas paliçadas há muros feitos de pedra e barro. As cabanas são compridas e cobertas com cascas de árvore e as paredes são como paliçadas de caniços, de modo que possam atirar por elas. Éramos, na ocasião, pelo menos quinhentos portugueses e trezentos índios, fazendo o cerco à aldeia de Morogege, e varias vezes os temiminós nos atacaram com tanta violencia que tememos todos morrer ali, de modo que fomos forçados a ficar debaixo de um passadiço feito de pedra, barro e troncos enquanto aguardávamos ajuda vinda do Espírito Santo. Os índios temiminós subiam nos muros da aldeia todos cobertos de penas e com os corpos pintados de preto e vermelho, muito feios de se ver, segurando algo como rodas feitas de penas que eles incendiavam e sacudiam sobre as cabeças, gritando para os portugueses: “Lovae eyave pomombana”, que quer dizer “É desta forma que vocês serão consumidos”. Depois que chegaram os reforços do Espírito Santo eles começaram a ficar com medo e a fugir da aldeia. Mas, quando vimos isto, fizemos algo que os portugueses chamam pavêses (são feitos de caniços de sete ou oito jardas de comprimento, que nenhuma flecha pode atravessar), que os portugueses e os índios que estavam do nosso lado carregaram como uma parede, e assim protegidos alcançaram os muros da aldeia e os puseram abaixo, com muitos mortos e feridos entre os nossos.

No meio da batalha nosso capitão, Martim de Sá, foi jogado no rio por um canibal, que o pegou nos braços e, a despeito de todos nós, carregou-o à distância de um tiro de pedra, e o jogou no rio, onde ele teria se afogado se não fosse por um índio muito famoso chamado Patamicu, que era escravo do próprio Martim de Sá. Esse Patamicu (que quer dizer “tabaco comprido”, pois os índios têm esse tipo de nome) matou o canibal que tentava afogar seu senhor, e assim o salvou. Naquele dia vencemos e pegamos dezesseis mil deles, dos quais matamos mil e seiscentos a fio de espada, e dividimos o restante entre os portugueses. Depois, atacamos muitas pequenas aldeias, matando todos os velhos, tanto homens como mulheres, e separando aqueles que poderiam ser úteis, e depois voltamos para casa. Após termos destruído a região, descemos um rio chamado Paraíba até que chegamos a uma aldeia de canibais chamada Moru. De lá fomos até a montanha que os índios chamam Paranapiacaba, que quer dizer “vista do mar”, e dela até um outro lugar chamado pelos canibais de Tupamboiera, que quer dizer “contas de Deus”. Os portugueses chamam esse lugar de órgãos. Lá há certas montanhas que se debruçam sobre o Rio de janeiro. Então descemos um rio chamado Macacu e chegamos à cidade de São Sebastião, no Rio de janeiro, onde cada homem levou seu escravo para casa.

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