A CARTOGRAFIA MODERNA PORTUGUESA
O processo de mapeamento do Espírito Santo seguiu dos moldes do reconhecimento e mapeamento de toda a costa do Brasil, um processo importante para Portugal. Mapas eram considerados verdadeiras fontes de poder, ferramentas que permitiam criar um discurso imperialista e estabelecer o domínio de territórios distantes. Ou seja, mesmo uma viagem de navio entre Portugal e o Brasil podendo durar até 3 meses, com um único mapa, a Coroa era capaz conhecer, controlar e administrar suas possessões ultramarinas diretamente da metrópole.
A maior parte dos mapas expostos aqui foram feitos durante o período da União Ibérica quando Portugal e Espanha estiveram sob uma mesma coroa. De 1580 a 1640, as duas nações foram governadas por três Filipes, que, controlando um império que se espalhava por todo o mundo, se tornaram os reis mais poderosos da Europa.
A própria existência desses mapas mostra o que chamamos de “atlantização das atenções”. Com a queda nos lucros obtidos na Ásia no século 17, é para o Atlântico, mais especificamente para a América, que Portugal virará seus olhos. Um elemento capaz de demonstrar o crescimento dessa importância é o Roteiro de todos os sinais da costa do Brasil, do cartógrafo Luís Teixeira. Feito em finais do século 16, o roteiro traz o primeiro conjunto de mapas a representar o território do Brasil em detalhes, contanto com uma dúzia de cartas regionais. Nessa lista, é claro, está uma parte do Espírito Santo.
O ESPÍRITO SANTO
A Capitania do Espírito Santo, uma das primeiras a serem criadas pela Coroa, foi doada a Vasco Fernandes Coutinho, que em 1535 abriu o caminho para que os portugueses expandissem o conhecimento sobre a região, gradualmente ocupada pelos colonos. Em 1570, segundo o cronista Pero de Magalhães Gândavo, Vitória tinha cerca de 180 “vizinhos” (um termo que significava 4 ou 5 pessoas, dando um total de 720 a 900 pessoas). Comparada a Pernambuco (1.000 vizinhos), ou a Baía de Todos os Santos (1.100), o Espírito Santo era simplesmente pequeno: apenas as capitanias de Itamaracá (100) e do Rio de Janeiro (140) eram menores.
Mas aqui, é claro, não viviam apenas portugueses. Acredita-se que, em 1500, viviam na região do Espírito Santo cerca de 160 mil ameríndios, ou 7% da população do território brasileiro (estimada em 2,5 milhões). Com a chegada dos jesuítas, suas aldeias e missões passaram a reunir grandes grupos de indígenas, que ajudaram a formar o que seria a base para o povoamento de toda a capitania. Padre José de Anchieta, no século 16, contou 4.500 índios aldeados, um número muito expressivo para uma capitania que provavelmente não tinha mais que 1.000 colonos portugueses.
Ainda assim, no início do século 17, a Vila de Vitória estava bem estruturada. De acordo com relatos da época, a vila tinha boas casas de negócios, colégio jesuíta e conventos, além de quatro ou cinco engenhos. Sua economia girava em torno da cana de açúcar, da qual se faziam açúcar e aguardente, algodão, arroz e tabaco, sem falar no pau-brasil.
Este é, portanto, o Espírito Santo que vemos nos mapas a seguir. Feitos entre 1590 e 1700, eles nos trazem a imagem de uma capitania que não encontramos em qualquer outro lugar. Verdadeira fonte primária de nossa História, a cartografia do Espírito Santo, feita por portugueses, holandeses e italianos, é essencial para conhecermos as origens do nosso estado.
