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14/10/1704: Carta para o Capitão-mor Atanásio Serqueira Brandão, sobre a tomadia que se fez ao Capitão Gaspar de Lima, parte que toca dela aos executores, fazer que não escape nenhuma, nem o ouro que das minas vier por quintar
Vejo a conta que Vossa mercê me dá na sua carta de 2 de Agosto deste ano: com o termo da rematação da tomadia que fez, da boiada, (com o Capitão Manuel Francisco, e ajuda de Domingos do Prado) ao Capitão Gaspar de Lima Dantas que ia para as minas, a qual por não haver quem por ela mais désse na praça desse arraial, por estar muito danificada, em razão da grande seca, rendera liquidamente, trezendos cincoenta mil e oitocentos réis, que ficavam depositados, em mão de Domingos do Prado, para os entregar todas as vezes que lhe fosse mandado: e pareceu-me agradecer a Vossa mercê, o cuidado, e zelo com que se houveram nesta diligência tanto do serviço de Sua Majestade, que Deus guarde, em que espero continuem de maneira que mereçam justamente a satisfação que devem esperar da real grandeza do dito Senhor, por este particular serviço que lhe fazem o que lhe hei de representar, em ordem á remuneração que costuma fazer, a todos aqueles de que se dá por bem servido.
Ainda que o rendimento da dita tomadia, não saboreou muito o gosto de Vossa mercê, e seus Companheiros, nem deu à Fazenda Real o proveito que pudera, Vossas Mercês obraram bem, em arrematar por ser só bois, e cavalos e evitar que na remessa dela para esta cidade (estando já com tanto prejuizo) pudesse ter maior diminuição, no rigor da seca, e dilatados caminhos por que se havia de conduzir. Da importância da dita tomadia, tirará Vossa Mercê a metade, que é o que lhes toca, para a repartição entre si, com a igualdade que é justo, visto estar finda a execução, e líquido o rendimento: e a outra metade, remeterá Vossa mercê com toda a segurança a esta cidade, a entregar à ordem do Provedor-mor da Fazenda Real para mandar pôr a sua importância em arrecadação; e ordeno a Vossa mercê que daquí em diante se haja com tal vigilância, e cuidado, que lhe não escape cousa alguma, assim do que for para as minas, como do que delas vier, na forma da ordem de Sua Majestade, inserta na minha, que Vossa Mercê tem em seu poder; porque não consiste só nas tomadias dos bois, cavalos, fazendas secas, e gêneros comestíveis mas tambem (muito especialmente) nos escravos; porque de os levarem para as ditas minas, resulta a este Estado, e aos seus moradores, a ultima ruina, que já se experimenta na falta deles, e dos mantimentos e mais lavouras de que se conserva o Brasil, e Vossa mercê como tão interessado nele, deve executar inteiramente o remédio que Sua Majestade tem aplicado, a este prejuizo tão geral, que quasi se faz irremediavel: e porque a Real Fazenda do dito Senhor o não tem menor no ouro que sai das minas por quintar, de que tenho notícia vem muita quantidade, e até o presente se não confiscou nenhum, advirto a Vossa Mercê, que está pedindo este descaminho, um exame, e vigilância muito cuidadosa, e advertida, para as cautelas, e indústrias com que os culpados o pretendam livrar da perdição a que o trazem exposto; fio tanto que Vossa Mercê a execução de tudo, que só lhe recomendo, participe esta carta ao Capitão Manuel Francisco, e aos mais Cabos, a quem nesses distritos tenho encarregado as tomadias dos comboios, para que todos estejam de acordo, no que hão de obrar a bem do serviço de Sua Majestade, e utilidade sua; e eu no que valer de seus acrescentamentos, não hei de faltar a Vossa mercê, a quem Deus guarde. Baía e Outubro 14 de 1704.